sexta-feira, 20 de março de 2009

O papel da fotografia nas guerras

Com o advento da fotografia, muito do mundo mudou, e se você parar para pensar, coisas que não eram vistas normalmente, ou somente através de pinturas, passaram a circular, e a comunicação passou a ter novas fontes de informação. Por um tempo, a fotografia foi vista como substituta da pintura, e a pintura teve que se reinventar. Basta bater as datas da invenção da fotografia, derivada das câmaras escuras da Idade Média, incrementada com química e paciência para pesquisar como "colar" uma imagem em uma superfície, e comparar com as datas dos movimentos de arte que surgiram em sequência.


A pintura era muito usada para retratar famílias, pessoas importantes, imagens sem muito comprometimento com o real ou mesmo sem a precisão do real, e com o advento da fotografia, passou a ser relegada a um segundo plano, a partir do momento que a técnica e tecnologia da fotografia não exigiam mais que alguns momentos para mostrar uma realidade muito maior que a pintura em tela. Cada fotografia é uma exposição de tempo, um fragmento do tempo suspenso e fixado em um suporte. Este tempo é sempre o presente.


O mesmo aconteceu com a guerra. A guerra era retratada de maneira heróica em pinturas, e não mostrava toda a realidade que acontecia no campo de batalha. Havia a dramatização da pintura, e a obra dependia exclusivamente do autor e sua motivação para tomar seu destino.


CivilWar.jpg


Guerra Civil Americana. Autor não identificado.


A fotografia em guerra passou levar as pessoas uma outra realidade, não heróica, mas cruel, mostrando o que de fato era uma batalha, e como as coisas aconteciam no campo. A realidade perturbadora do que era uma guerra nunca havia chegado de fato ás pessoas, e talvez elas nunca tenham se dado conta do horror disso.


É fato que isso mudou com o advento da fotografia. Fotógrafos registravam a realidade independentemente do que acontecia. Continua, claro, a depender do que o autor quer registrar, mas as cenas não eram alteradas, dramatizadas da mesma forma que a pintura. A realidade passa a ser palpável. Não eram sujeitas á interpretação do autor, pois eram reflexo e registro do real. Milhares de pessoas morriam em uma guerra, a destruição era real, mas não era palpável á população.


Com isso, o horror da guerra foi mostrado a todos. Desde a Primeira Guerra Mundial, até a recente guerra da Bósnia, passando por rebeliões, revoltas civis, tudo é registrado e mostra ao mundo o horror da guerra, e tudo que acontece em um campo de batalha. A mente humana parece que funciona em choque, pois após isso, muito do que se pensa sobre guerras mudou.


Vietnam_napalm_1972 - nick ut.jpg


Crianças vietmanitas fogem de um ataque de bombas de napalm. Foto de Nick Ut, 1972.


Em 1985, pouco antes de se tornar membro da Agência Magnum, James Natchwey escreveu o seguinte, sobre a relevância de seu trabalho como fotógrafo de guerra:


Por que fotografar guerras?


Sempre houveram guerras. Uma guerra está explodindo neste exato momento no mundo. E há uma pequena razão para acreditar que essa guerra irá terminar no futuro. Quando o homem começou a ficar cada vez mais civilizado, seus meios de destruir o próximo ficaram cada vez mais eficientes, cruéis e devastadores. É possível pôr um fim a um comportamento humano que existe através da história por meio da fotografia? As proporções parecem ridiculamente desproporcionais. Ainda assim, essa idéia me motivou.


james_nachtwey.jpg


Foto de James Natchwey.


"Todo o tempo em que estava lá, eu quis ir embora. Não queria ver isso. Poderia desistir e ir embora, or poderia lidar com a responsdabilidade de estar lá com a minha câmera". - James Natchwey


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Um comentário:

cabelo de fogo disse...

Olá, estava estudando um pouco sobre história da fotografia e fui abençoada com essa matéria, achei ótima!
É um precioso alerta que nos faz refletir até mesmo na futilidade das nossas guerras cotidianas que muitas vezes produzem sonhos órfãos e renegam compaixão, trazendo reféns na mira do egoísmo.
Parabéns!
[]MR.